segunda-feira, 26 de outubro de 2009

A Menina e o Trator

Certa vez indo para a universidade, fechou os olhos e desejou do fundo do coração que aquela fosse uma manhã de domingo.
- Não posso dormir
Ao abrir os olhos deparou-se com um lugar muito familiar e um turbilhão de lembranças tomou sua mente.
Ali havia vivido uns poucos bons momentos, eternos momentos, seria o melhor termo.
Lembrou-se então daquela manhã de domingo, era dia de visita! Levantou cedo, a mãe a vestiu, o pai disse que ela ia conhecer o lugar que o papai trabalhava. Sempre se perguntou o que o papai fazia e naquela manhã resolveu descobrir de uma vez qual afinal era a função dele.
- O papai faz as certidões de nascimento do trator.
Trator? Que bicho é esse? Não era bicho, ela se lembrava de ter visto o pai uma vez dirigir um desses, era amarelo, e o pai parecia pequenininho lá dentro. Então ficou feliz em saber que ia ver aquela "coisona" de perto.
Chegaram finalmente ao lugar, era um lugar grande, tinha um "V" enorme lá dentro, mas não era isso que ela queria ver.
- Vamos ver a sala do papai!
A sala do papai ficava em um lugar alto, com paredes de vidro e uma iluminação um tanto sombria. Havia uns computadores, que hoje em dia não devem servir pra mais nada, mas naquele dia ver aquela tela acendendo foi a coisa mais legal que ela já tinha visto. A sala do papai era bem legal, mas ainda não era isso que ela queria ver.
- Tá na hora de comer um lanche!
Um suco que vinha dentro de um saquinho, um iogurte que vinha em uma embalagem que mais parecia uma mamadeira que dava pra apertar e um pão com presunto. Não era um banquete é claro, mas era o suficiente.
De longe ela viu. era ele, era lindo, era grande, ficou hipnotizada. Como era bonito! Alguns estavam ligados, faziam um barulho alto, parecia um ronco.
- Quer subir, filha?
- Quero!
Subiu em todos. Um por um. Cada um parecia ter um jeito diferente, parecia um saquinho de jujubas em que cada uma tem um gosto, e se você não olha a cor, você tem uma bela surpresa quando põe na boca.
O dia acabou e ela nem percebeu. Os anos se passaram mais rápido ainda. Hoje ela já não sobe em tratores, nem toma iogurte de mamadeira, muita coisa mudou. Outras não mudaram, ela ainda não sabe em que o papai trabalha, mas a essa altura já não é tão legal assim saber.
A vida seguiu e ela cresceu, mas ainda se lembra de tudo isso. Às vezes fecha os olhos e ainda consegue ouvir uma voz fininha e baixinha lá no fundo:
- Pai, posso subir no trator?

domingo, 25 de outubro de 2009

O Garoto da Camisa Verde






Ela apenas levantou-se, manhã de sábado, um longo dia de trabalho pela frente . A vida naqueles tempos lhe parecia algo novo, com gosto de liberdade e uma pitada a mais de ousadia antes desconhecida de seu paladar. Ela não pressentiu nada, e nem esperava nada e ouso dizer também que não queria nada, ou queria? Suas atividades seguiram normalmente, aquelas horas infindáveis que lhe pareciam muito mais com séculos, vozes irritantes e a proximidade com a deliciosa hora do almoço a tornavam mais impaciente. Hora boa era aquela do dia, a companhia adorável da amiga e conversas que apenas profundos conhecedores daquelas duas vidas poderiam compreender!
Ela preparou-se para mais duas horas de trabalho, duas horas essas que iriam durar mais tempo do que ela poderia imaginar, ali ela experimentaria sensações que nem imaginava. Conheceu ali aquele que saberia mexer com seus sentimentos mais puros e ao mesmo tempo promíscuos, aquela voz que penetraria sua imaginação e as mãos...ah que mãos! Ali conheceu o garoto da camisa verde!
Não, não foi amor o que ela sentiu, tampouco paixão, mas sentiu uma irresistível atração e uma vontade absurda de se aproximar. Pois assim o fez, chegou aos poucos, logo sabia o que lhe era suficiente naquele instante, informações que a fariam recordar de um passado indigerível.
Não tardou para que ele conquistasse sua confiança, bastou um único elogio àquilo que mais lhe era importante na vida, e estava ela ali encantada. Também não tardou para que esse encanto lhe fosse arrancado, pois soube de fatos verdadeiramente sem influência em sua vida, mas que naquela hora, ah sim! Influenciavam e muito.
O encanto deu lugar ao desprezo e à arrogância. Ingênua, achou que com o desprezo iria mantê-lo longe, doce ilusão, cada vez mais se aproximava, e aparentemente o desprezo instigava nele a curiosidade e nela a sensação de poder, como era ingênua.
E assim seguiu, ela passou a ignorar sua existência e construiu uma barreira, que ela acreditava protegê-la, um dos maiores enganos que ela cometeu. Foi em uma tarde de quinta-feira, que tudo mudou, naquele dia ela já não pode deixar de pensar nele, naqueles dois segundos, naquela pergunta, naquela resposta, no celular, no olhar, na proximidade. Naquela noite a conversa sempre cheia de hostilidade se tornou o mais carinhosa possível, e ela já enxergava ele com outros olhos, mas não podia se entregar assim, não era ele que ela queria. Mas,um beijo será que ia matar? Matando ou não ela preferiu arriscar morrer, e se deixou levar. O beijo...que beijo! Se sentiu beijada como nunca tinha sentido antes, um misto de medo e desejo, relutância e entrega, afinal, uma vez não matou!
Também não morreu na segunda, na terceira, na quarta e em todas as outras vezes! Era tudo perfeito, nem os dois acreditavam como conseguiam se dar bem, mas conseguiam, e isso ninguém mudava. Ele dizia que gostava dela pra valer, e que abriria mão de todas as outras por ela, mas não era o que ela queria. Enxergava ele como um escudo que iria protegê-la de um envolvimento com qualquer outra pessoa, não se envolveria com ele, mas também não se envolveria com mais ninguém. Assim foi, realmente não se envolveu com ele, porém se fechou para qualquer outro, ninguém se aproximava e quando chegava perto era rapidamente afastado.
Mas ele sim, se envolveu, agora tinha alguém. Ela logo pensou que nunca mais beijaria o Garoto da Camisa Verde. Se enganou mais uma vez, não só o beijou de novo, como o beijo se tornou mais interessante, mais gostoso, mais envolvente! Não sabia dizer o que ela era, amiga, amante ou o que fosse, sabia que achava aquela situação assustadoramente deliciosa. Não queria que aquilo terminasse, não queria deixar de se esconder, não queria deixar de sentir aquele frio na barriga que só sentia quando estava com ele. Ás vezes, brigavam como namorados, gritavam como namorados e havia quem dissesse que um dia eles seriam como namorados, ela sempre duvidou!
Já havia um tempo que não se viam, e ele aparece, dessa vez, sem ninguém, foi então que todos disseram “É agora que vocês ficam juntos!” e foi nessa hora também que ela perdeu aquele desejo que parecia que não passaria nunca. Ele estava livre! Ela devia ficar feliz, tinha a chance de conquistá-lo, mas novamente, não era o que ela queria, pois sabia que não ia precisar se esconder, não ia sentir aquele frio na barriga, ele tinha simplesmente perdido a graça!
Em uma noite, o beijou novamente, aquele beijo foi diferente “Nunca tínhamos nos beijado em pé”, era o primeiro beijo, em que nenhum dos dois tinha medo de ser pego, era o primeiro beijo que disparou o coração dela, o primeiro beijo que a deixou com as pernas moles! E agora? Todos estavam certos? Ela sempre gostou dele e não sabia? Ficou pensando nisso por um tempo, e de repente percebeu que mais uma vez ela se enganou. Só não se enganou em uma coisa: Ela nunca conseguirá explicar o que sentiu por ele, ela nem quer explicar, ter vivido tudo isso foi o suficiente pra marcar a vida dela. Existem coisas entre eles que só eles conseguem entender, coisas que ninguém mais no mundo vai poder explicar, ela não sabe se eles serão assim a vida toda, não quer pensar como tudo isso pode acabar, ela só sabe de uma coisa: se um dia lhe perguntarem “Qual é a melhor história de sua vida?” Ela sem dúvida responderá “É aquela sobre o Garoto da Camisa Verde!”


O primeiro

Quando penso em alguém postando algo em um blog, logo imagino alguém na frente do computador, pensando no que postar, me vejo nessa exata situação agora. Apesar de saber o que vou postar, o primeiro post é sempre chato, afinal, o que eu devo fazer? Dizer quem sou eu? Dizer qual a finalidade/objetivo do meu blog? Acontece que de uns tempos pra cá me percebi tomada por uma inspiração incrível e me vi escrevendo linhas e mais linhas, e me espantei ao ver que estava gostando do que eu escrevia, e depois de brigar muito comigo mesma, e relutar muito, vi que chegou a hora de dividir isso com pessoas, poucas provavelmente, mas o importante é dividir!
Fico feliz em ter terminado o primeiro post!