domingo, 25 de outubro de 2009

O Garoto da Camisa Verde






Ela apenas levantou-se, manhã de sábado, um longo dia de trabalho pela frente . A vida naqueles tempos lhe parecia algo novo, com gosto de liberdade e uma pitada a mais de ousadia antes desconhecida de seu paladar. Ela não pressentiu nada, e nem esperava nada e ouso dizer também que não queria nada, ou queria? Suas atividades seguiram normalmente, aquelas horas infindáveis que lhe pareciam muito mais com séculos, vozes irritantes e a proximidade com a deliciosa hora do almoço a tornavam mais impaciente. Hora boa era aquela do dia, a companhia adorável da amiga e conversas que apenas profundos conhecedores daquelas duas vidas poderiam compreender!
Ela preparou-se para mais duas horas de trabalho, duas horas essas que iriam durar mais tempo do que ela poderia imaginar, ali ela experimentaria sensações que nem imaginava. Conheceu ali aquele que saberia mexer com seus sentimentos mais puros e ao mesmo tempo promíscuos, aquela voz que penetraria sua imaginação e as mãos...ah que mãos! Ali conheceu o garoto da camisa verde!
Não, não foi amor o que ela sentiu, tampouco paixão, mas sentiu uma irresistível atração e uma vontade absurda de se aproximar. Pois assim o fez, chegou aos poucos, logo sabia o que lhe era suficiente naquele instante, informações que a fariam recordar de um passado indigerível.
Não tardou para que ele conquistasse sua confiança, bastou um único elogio àquilo que mais lhe era importante na vida, e estava ela ali encantada. Também não tardou para que esse encanto lhe fosse arrancado, pois soube de fatos verdadeiramente sem influência em sua vida, mas que naquela hora, ah sim! Influenciavam e muito.
O encanto deu lugar ao desprezo e à arrogância. Ingênua, achou que com o desprezo iria mantê-lo longe, doce ilusão, cada vez mais se aproximava, e aparentemente o desprezo instigava nele a curiosidade e nela a sensação de poder, como era ingênua.
E assim seguiu, ela passou a ignorar sua existência e construiu uma barreira, que ela acreditava protegê-la, um dos maiores enganos que ela cometeu. Foi em uma tarde de quinta-feira, que tudo mudou, naquele dia ela já não pode deixar de pensar nele, naqueles dois segundos, naquela pergunta, naquela resposta, no celular, no olhar, na proximidade. Naquela noite a conversa sempre cheia de hostilidade se tornou o mais carinhosa possível, e ela já enxergava ele com outros olhos, mas não podia se entregar assim, não era ele que ela queria. Mas,um beijo será que ia matar? Matando ou não ela preferiu arriscar morrer, e se deixou levar. O beijo...que beijo! Se sentiu beijada como nunca tinha sentido antes, um misto de medo e desejo, relutância e entrega, afinal, uma vez não matou!
Também não morreu na segunda, na terceira, na quarta e em todas as outras vezes! Era tudo perfeito, nem os dois acreditavam como conseguiam se dar bem, mas conseguiam, e isso ninguém mudava. Ele dizia que gostava dela pra valer, e que abriria mão de todas as outras por ela, mas não era o que ela queria. Enxergava ele como um escudo que iria protegê-la de um envolvimento com qualquer outra pessoa, não se envolveria com ele, mas também não se envolveria com mais ninguém. Assim foi, realmente não se envolveu com ele, porém se fechou para qualquer outro, ninguém se aproximava e quando chegava perto era rapidamente afastado.
Mas ele sim, se envolveu, agora tinha alguém. Ela logo pensou que nunca mais beijaria o Garoto da Camisa Verde. Se enganou mais uma vez, não só o beijou de novo, como o beijo se tornou mais interessante, mais gostoso, mais envolvente! Não sabia dizer o que ela era, amiga, amante ou o que fosse, sabia que achava aquela situação assustadoramente deliciosa. Não queria que aquilo terminasse, não queria deixar de se esconder, não queria deixar de sentir aquele frio na barriga que só sentia quando estava com ele. Ás vezes, brigavam como namorados, gritavam como namorados e havia quem dissesse que um dia eles seriam como namorados, ela sempre duvidou!
Já havia um tempo que não se viam, e ele aparece, dessa vez, sem ninguém, foi então que todos disseram “É agora que vocês ficam juntos!” e foi nessa hora também que ela perdeu aquele desejo que parecia que não passaria nunca. Ele estava livre! Ela devia ficar feliz, tinha a chance de conquistá-lo, mas novamente, não era o que ela queria, pois sabia que não ia precisar se esconder, não ia sentir aquele frio na barriga, ele tinha simplesmente perdido a graça!
Em uma noite, o beijou novamente, aquele beijo foi diferente “Nunca tínhamos nos beijado em pé”, era o primeiro beijo, em que nenhum dos dois tinha medo de ser pego, era o primeiro beijo que disparou o coração dela, o primeiro beijo que a deixou com as pernas moles! E agora? Todos estavam certos? Ela sempre gostou dele e não sabia? Ficou pensando nisso por um tempo, e de repente percebeu que mais uma vez ela se enganou. Só não se enganou em uma coisa: Ela nunca conseguirá explicar o que sentiu por ele, ela nem quer explicar, ter vivido tudo isso foi o suficiente pra marcar a vida dela. Existem coisas entre eles que só eles conseguem entender, coisas que ninguém mais no mundo vai poder explicar, ela não sabe se eles serão assim a vida toda, não quer pensar como tudo isso pode acabar, ela só sabe de uma coisa: se um dia lhe perguntarem “Qual é a melhor história de sua vida?” Ela sem dúvida responderá “É aquela sobre o Garoto da Camisa Verde!”


Um comentário:

  1. Jú, obrigada por compartilhar essas linhas... Não sabia que você escrevia tão bem!! Uma ótima surpresa! =) Você é especial, uma pessoa maravilhosa! Gosto muito de você! Bj =) Mel =)

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